as praticidades da vida sempre o alegraram:
o controle remoto, a escada rolante, o telefone sem fio.
mas, tinha preguiça de fazer café.
toda manhã, a mesma rotina:
olhava a cafeteira,
o filtro,
o pó.
pensava: vou passar na padaria.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Putarias e analgésicos
Preferia não ter acordado naquele dia, ainda mais tendo sonhado com prazeres há muito não tidos. Estava infeliz, como noutras tantas vezes. Estava aflita, puta, atormentada. Com ânsias de vômito e choro, como noutras tantas vezes.
- Caralho!
E de repente soa um estrondoso som – Pá- quando uma chutada lixeira, obliquamente arremessada, vomita pela sala: papeis, cigarros, pilhas, pontas de lápis, garrafas de 500ml... todos indevidamente descartados.
Vista a entapetada bagunça, puta, ela se solta brusca sobre o sofá. A fadiga patológica denunciava ser aquele dia mais um a sobrar no calendário. Os ausentes se acotovelavam na sala miúda para lhe apertar os olhos, mas ela por mais que simulasse, não tinha mais sono com tantos sonhos pendentes, tinha apenas indisposição e náuseas.
Ao lado do toca discos, pensava, entre muitas sensações, sob qual silencio se meteria naquela manhã: Caetano; Beatles; Ella; Chico; suspiros; ou nada?
De pronto decidiu-se.
Acionado o mecânico braço, a porosa agulha quebrava miúda a mudez habitual da casa, para em seguida, logo em seguida, a música conurbar centrípeda os dispersos cômodos ao redor de seu giro.
As um tanto morosas, mas ainda mais temperamentais pernas, sentem na fibra de suas carnes o prenúncio do contágio, que é rápido, avassalador e fugaz, mas é audível. Não é loló. Ainda sobre as morosas, mas temperamentais pernas, invadidas na sua fibra pelo loló sonoro, as mesmas catapultam vigorosas as notas mais assanhadas, e chutam, e pisam e giram, e contraem-se. É a hora.
Já os braços: socam, puxam, jogam. Se erguem hora sozinhos, hora ao par, para retornar e emoldurar uma dança torta; coreografia de uma louca saída de um incêndio. É a musica.
O coração se perde na sua contagem, e só o modo “bass” latejante das caixas acusticas tem o poder de reger sangue e músculos. Paredes tombam maduras pela falta de rumo das coisas, enquanto cadeiras, panelas, meias, sabonetes, talheres, chinelos, estante, clipes de papel, escova de dente, geladeira, portas e janelas adornam agora sua nova casa; casa nova chegada feito bigorna cadente. É a musica, é agora.
Mas no rabo de um grande tempo atravessado, a melodia descansa muito antes da alma. O giro desacelera, o chiado abafa o grave, os rotacionais cômodos caminham para o repouso, o braço mecânico se recolhe, a maquina se cala e os pulmões expandem-se. É o começo, é o fim.
- Caralho!
E de repente soa um estrondoso som – Pá- quando uma chutada lixeira, obliquamente arremessada, vomita pela sala: papeis, cigarros, pilhas, pontas de lápis, garrafas de 500ml... todos indevidamente descartados.
Vista a entapetada bagunça, puta, ela se solta brusca sobre o sofá. A fadiga patológica denunciava ser aquele dia mais um a sobrar no calendário. Os ausentes se acotovelavam na sala miúda para lhe apertar os olhos, mas ela por mais que simulasse, não tinha mais sono com tantos sonhos pendentes, tinha apenas indisposição e náuseas.
Ao lado do toca discos, pensava, entre muitas sensações, sob qual silencio se meteria naquela manhã: Caetano; Beatles; Ella; Chico; suspiros; ou nada?
De pronto decidiu-se.
Acionado o mecânico braço, a porosa agulha quebrava miúda a mudez habitual da casa, para em seguida, logo em seguida, a música conurbar centrípeda os dispersos cômodos ao redor de seu giro.
As um tanto morosas, mas ainda mais temperamentais pernas, sentem na fibra de suas carnes o prenúncio do contágio, que é rápido, avassalador e fugaz, mas é audível. Não é loló. Ainda sobre as morosas, mas temperamentais pernas, invadidas na sua fibra pelo loló sonoro, as mesmas catapultam vigorosas as notas mais assanhadas, e chutam, e pisam e giram, e contraem-se. É a hora.
Já os braços: socam, puxam, jogam. Se erguem hora sozinhos, hora ao par, para retornar e emoldurar uma dança torta; coreografia de uma louca saída de um incêndio. É a musica.
O coração se perde na sua contagem, e só o modo “bass” latejante das caixas acusticas tem o poder de reger sangue e músculos. Paredes tombam maduras pela falta de rumo das coisas, enquanto cadeiras, panelas, meias, sabonetes, talheres, chinelos, estante, clipes de papel, escova de dente, geladeira, portas e janelas adornam agora sua nova casa; casa nova chegada feito bigorna cadente. É a musica, é agora.
Mas no rabo de um grande tempo atravessado, a melodia descansa muito antes da alma. O giro desacelera, o chiado abafa o grave, os rotacionais cômodos caminham para o repouso, o braço mecânico se recolhe, a maquina se cala e os pulmões expandem-se. É o começo, é o fim.
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