sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ressaca, maresia e fundo de baia.

parte 2: Sedimentação e metamorfismos; A cerimônia da vida.

Um dia fresco, nuvens redondas no céu, vento que passa e anda apressado pelas calçadas. Vento que sopra nos bares, lanchonetes, lojas de rua, entra no meu quarto e bagunça meus papeis. Dia diferente. Há uma promessa passeando pelas ruas, algo grande vai acontecer.
Camila não sabia bem o que esperava daquele dia amanhecido em novidade. Grande mentira, sim ela sabia o que esperava, mas também sabia que o que esperava era algo impossível de acontecer. Não podendo esperar pelo que queria, se perguntou o que de grande aconteceria naquele dia de nuvens redondas filtrando o sol e vento apressado mexendo em tudo, o que?
Suas náuseas andavam mais comportadas, não porque elas tenham sossegado sozinhas ou sob drogas coercivas às suas manifestações, mas Camila de alguma forma as adestrou. Não, ela não as dizia, sente, quieta, calada, não, não.. Mas ela aprendeu a olhar no fundo da espuma perolada acumulada na água da privada. Sentia seu cheiro, e ela cheirava à água recém fervida, trazia o calor do seu corpo e os odores de seus órgãos internos. Camila morria.
Morria e foi andar de bicicleta. O dia estava diferente, prometendo, iludindo, pedindo, preparando e anunciando algo grande.
Um anúncio calado, lançado em sopros fortes e luz meio fosca. Idéia mais torta de Camila. Não, o teto não se abriria e ecoaria uma voz entoando blasfêmia ou qualquer outra coisa, nem pra ralhar deus apareceria. Ninguém apareceria. Foram todos embora, menos a espuma perolada sobre a água do fundo da privada. Esta a encarava por diversas manhas, e quando a encarava em sua memória, a espuma voltava sob outras cores, cores olhadas nos olhos. Cores de amor agora jogadas à privada.

Algo grande se fazia necessário; um sorvete de creme, um barco, um mar, um beijo inseguro, um deslize do medo.

Camila vivia.
Vivia e foi andar de bicicleta.

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