21 de maio de 2015, quinta a noite. Envio um email as
pressas para minha chefe, amanhã, sexta-feira, não poderei comparecer ao
trabalho. Vou à São Paulo, inscrever uma obra, mais uma marinha, na “EXPOSIÇÃO
DE ARTES – 2015, OS 150 ANOS DA BATALHA NAVAL DO RIACHUELO”, salão promovido
pelo CENTRO CULTURAL DA MARINHA EM SÃO PAULO DO COMANDO DO 8º DISTRITO NAVAL,
Localizado na Avenida 9 de julho, nº 4597.
Foi uma decisão confusa. Gastar dinheiro em uma missão
praticamente impossível. Mas, se o dinheiro não for para ser gasto, para que
então? Terminada também às pressas a pintura de demais adaptações no novo
suporte desta nova marinha, desta vez emoldurada e protegida por uma formosa
caixa de MDF comprada no mercado popular do Saara poucos dias. As pressas
adquiri um câmera espiã em forma de chaveiro de carro para gravar a entrega do
trabalho e pegar o diálogo com centro cultural.
Copos embrulhados em jornais, areia e água da Praia do
Flamengo armazenadas em garrafas plasticas catadas pela praia no dia anterior,
Moldura branquinha em um saco dentro de outro saco dentro de outro, roupas
envolvendo os copos, câmera espiã no bolso, enfim, malas prontas, 1h45 da
manhã, saio de casa rumo à Rodoviária Novo Rio (por ideia, bem perto de casa)
Por sorte, o ultimo ônibus, um extra. Passagem salgada,
mas o que não o é? Incrivelmente durmo bem durante a viagem, coisa rara, dessa
vez, o salgado foi doce, outra coisa rara.
Enfim, 8h da manhã, terminal Tietê. Mala pesada de
rodinhas sendo arrastada pelo centro de São Paulo. Agora é traçar um plano.
Comer, ir na lan house, correr atrás do últimos detalhes
(sim, a obra não está 100% pronta), falta a assinatura (iten imprescindivel
segundo o edital). Como assinar um copo com areia e agua dentro? Boca na
coxinha, cabecinha matutando, preciso de um tecido e linha, penso eu.
Pego endereços na internet das coisas que faltam.
Consulto google maps. Plano traçado.
Vou. No caminho a sorte. Uma placa de “costureira”. Uma baiana, linda,
jovial. Digo o que quero, pelas vias
formais do capitalismo meu serviço custaria R$38 reais e 3 dias. Dialogo com a linda baiana, ela entende o que
quero. Pega um pano, uma linha, e borda meu nome manualmente: FABI. A linha era
azul escura, como o mar no horizonte. Fica perfeito. 5 minutos e 10 reais.
Sorrio e saio feliz. Digo que aquilo vai compor uma obra exposta no centro
cultural da marinha. Ela diz, ah legal.
Parto. Vou rumo ao centro cultural. É um pouco longe,
mas já tinha pensado nisso, por isso a mala com rodinhas. Finalmente chego em
frente ao prédio. Bate a insegurança. Preciso de um “cantinho”. Acho um
cantinho na calçada da esquina. Abro a mala, desembrulho os copos. Trouxe
vários para varias opções. No caminho repensei coisas, inclusive o nome, esta
marinha é outra, para outro espaço, outra ocasião, o edital é claro, a exposição é em alusão aos 150 ANOS
DA BATALHA NAVAL DO RIACHUELO. A obra é distante do comum, logo, precisa de
ajuda, de índices que a tragam pra mais perto. Então, firmei meu novo plano. Os
copos rachados, quase uniformes, nada lembram os coqueteis de Copacabana, e o
nome: “Batalha no mar, o dia seguinte” é a cartada final para sacralizar a
pintura.
Finalmente, ligo minha câmera espiã e entro no centro
cultural. Um marinheiro vem até a mim. Digo que é sobre a exposição. Ele vai
chamar o responsável. Vem um homem em trajes “esporte fino”, Sargento Resende.
Digo que estou ali pra inscrever minha obra. Conversa vai, conversa vem, ele
pergunta de onde vim, e digo, Rio de janeiro. Ah, eu também sou do Rio, diz
ele. Sou de Duque de Caxias, digo eu. Ah, já trabalhei em Caxias, morava em
Nova Iguaçu.
Como dizem por aí, tamu em casa...
Apresento minha obra, na verdade, os materiais dela.
Ele não parece exigir a obra montada, e por motivos práticos, não levei a esse
ponto. Apenas mostrei e expliquei como ela deveria ficar no final. Ele é
bastante receptivo, diz que já recebeu inúmeros trabalhos, muitos não tinha
haver com a exposição, como quadros de Jesus Cristo e outros feitos em papelão
colados com fita durex, mas que ele recebe tudo e passa para os curadores.
Explico que se trata de uma Marinha Read made. Ele diz, ih, agora tu falou
inglês pra mim. De fato!
Explico de forma solta o conceito, ele parece
interessado, e faz uma associação entre o nome da obra e a mesma, afinal, no
dia seguinte da batalha tá tudo quebrado!
Ele pergunta pela ficha de inscrição. Eu não trouxe.
Aqui não tem?respondo. Não, você deveria
trazer junto da obra, mas como você veio do Rio vou quebrar esse galho pra você.
Ele vai à secretaria imprimir a ficha de inscrição pra
mim e enquanto isso gravo detalhes da sala do centro cultural cheio de bustos,
brasões, bandeiras e pinturas óleo. Minutos depois volta muito gentil.
Preencho. Guardamos as “coisas” numa sacola retornável de super mercado, dessas
com a calçada de Copacana. Digo que preciso deixar um documento com as
instruções de montagem, mas ele diz, mas sou eu que vou montar, não se
preocupe.
Batemos mais um pouco de papo, noticias do rio, cerveja
e facadas. Ele me pergunta se eu fui pra São paulo só pra isso. Digo que vou
aproveitar para fazer passeios culturais. Malandramente, o gentil sargento olha
minhã câmera espião (travestida de chaveiro de carro) e diz, cê veio de carro.
E eu, prontamente respondo, "nião".
Bla, bla, bla, são muitas obras, eles vão selecionar e
devem te mandar um email.
Ok, obrigada Sargento, até!
Fim.
