Abril de 2015, uma tarde ensolarada.
Saio de casa com uma bolsa pesada rumo à tradicional Sociedade Brasileira de
Belas Artes. Na bolsa, minha mais
estimada obra, “Ressaca em Copacabana”. O tal retrato, pesando bastante na tal
bolsa, ainda precisaria ser montado para fazer parte da exposição daquele mês.
Chego
na Rua do Lavradio nº 84, na confluência da Rua da Relação com a Avenida
Chile, na Lapa, eis que entro o Solar do Marquês do Lavradio, onde há 40 anos abriga-se a Sociedade Brasileira
de Belas Artes. Falo de meu desejo de expor um trabalho ali. A atendente puxa
uma ficha e informa que são R$ 95,00. Digo ok, mas que antes precisámos ver
como se daria a exposição de meu trabalho, tendo em vista que não era uma tela
bidimensional. A atendente diz, então conversa com a Dona Teresinha.
Dona Teresinha, 83, administradora,
curadora, marchand e critica de arte. Me apresento e digo de meu desejo de
expor meu trabalho alí. Faço ressalvas em relação à montagem. Logicamente, ele
precisa ver o trabalho. Tiro as “coisas” da bolsa. Ela olha com rápida
curiosidade. Vou tirando os copos, a garrafa de água e a de areia. Disponho os
copos em linha reta sobre a prateleira envernizada. Primeiro coloco um pouco de
areia no fundo de cada um, depois pego a garrafa de água salgada e jogo no
primeiro copo. Os grãos de areia sobem formando um curto e translucido
redemoinho, ela diz algo: que isso? Que vai acontecer agora? Nada aconteceu,
Dona Teresinha. Termino de preencher os 3 copos com areia e agua do mar. O
Redemoinho foi breve, agora a maré descansa. Dona Teresinha olha para a obra.
Nada aconteceu, Dona Teresinha, nada aconteceu.
- Então, mas e ái?... Esses copos
estão quebrados, você sabia?... Olha, não tem como expor esse trabalho. Como
vou colocar isso na parede se o prédio é tombado e não pode furar as paredes
(se referindo à prateleira envernizada que dá base à obra). Desculpe,
mas não tem como.
- Eu posso adaptar a base e voltar.
Vocês tem o calendário de salões?
- Sim, aqui está.
- Ah, então vai ter o salão da Marinha
em junho. Vou adaptar o suporte e volto com este trabalho para o salão da
marinha.
- Minha querida, no salão da Marinha
você não pode participar.
- Mas porque não?
- Olha, eu respeito seu trabalho,
entendo sua ideia, mas se você quiser você pode participar do salão de arte
decorativa.
- Mas meu trabalho é uma marinha,
logo, o ideal é que ele participe de um salão de marinhas.
- Não, não tem como ele entrar no
salão de Marinhas.
- Mas eu vou trazê-lo para ao menos
ele ser submetido à seleção junto dos demais trabalhos.
- Esse salão é um salão importante
onde recebemos todo o apoio da Marinha. Se eu botar esse trabalho os oficiais
vão pensar que eu tô de piada com eles.
- Mas a senhora pode ao menos levar
este trabalho até eles para que então decidam.
- Querida, eu não vou importunar os
oficiais da Marinha com uma “coisa” dessas.
- Bom, então eu vou até o Comando do
1º Distrito Naval, o edital não e público?
- Menina...
Dessa vez o tom estava bravo
- Se você passar por cima de mim você
nunca mais entra nessa Escola, ouviu?
- Mas o edital não é publico? O salão
é do primeiro Distrito e a curadoria também, não?
- Não, quem organiza o salão sou eu. O primeiro distrito nos da uma verba para
fazermos um coquetel e eu não vou importunar os oficinais com isso.
Quase 5h da tarde, 1h depois de minha
chegada. Os funcionários se movimentam para deixar o expediente. Dona Teresinha
continua
- Minha filha, você é teimosa, mas eu
sou mais. Sabe quanto anos eu tê nesse ramo? Há 40 anos. Você estuda artes?
- Sim, na Uerj
- Isso é o que? No Fundão?
- No Maracanã
- Hum, chega um monte de alunos do
fundão aqui, não sabem nada, não sabem volume, perspectiva, a gente que ensina
tudo. Olha, tá vendo aqui (uma pilha de fichas), aqui é organizado, não é
aquela bagunça de Parque Lage, não.
- Ok, Dona Teresinha, vou mudar a base do meu trabalho e volto aqui para sua apreciação.

Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Rsrs. Mas como terminou a história? Conseguiu expor seu trabalho
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