Agora há pouco um homem brigava na rua, briga solitária de um olho só. Um louco, bradando alto com um desafeto imaginário.
- Um absurdo, isso contraria as normas do estatuto.
Dizia ele com o dedo apontado na cara do vento. Há muito devem lhe faltar inimigos, coisa triste tendo em conta que estes são os últimos ouvintes a te abandonarem.
Louco aquele homem, explanando suas rusgas debaixo do semáforo aos olhos dos pedestres. Loucura sob buzinas e pressa, loucura espalhada em vielas invisíveis, espremida entre compromissos e medos; urbanidade.
Continuei andando, deixei o homem e suas razões numa confusa encruzilhada e pensei no espaço apertado do meu apartamento. Pensei em quantas vozes suas paredes abafaram, em quantos rostos nasceram e morreram nos galhos das plantas subdesenvolvidas por falta de sol. Pensei na falta que meus inimigos me faziam e nas verdades que teria pra dizer.
Quis gritar, quis chamar, falar, bater, beijar, amar, matar... Enquanto me contentava em bradar minha colher de pau na cara do azulejo branco da cozinha cuspindo frases de repudio à tudo que me dói. Frases berradas por 4 m², concorrentes da água corrente da torneira aberta, do chacoalhar da maquina de lavar, do transito com a cara na janela, ou ainda do silencio das 2h40 da manha.
É... Brigava eu com os azulejos da cozinha, sorria eu com os cata-ventos da janela, gozava eu com gel, pilhas e downloads.
Que louco aquele homem exposto no passeio público.
Faz assim? Junta isso tudo e publica um livro de contos/ memórias? Faz isso por mim, senão por vc mesma?....
ResponderExcluirAi amigo, é só catarse...
ResponderExcluirTbm acho q vale a pena transformar em livro. Alma, os textos já têm. Só precisam de um corpo agora.
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