Eu não andava de bom humor. Fazia com freqüência aquelas frases...como é que e o nome disso? Aquelas frases meio determinantes...sabe? aquelas coisas como “não é que eu não goste da minha cunhada, o que eu não gosto é de gente burra”...esqueci o nome disso. Tava ficando igual a minha mãe, mas um pouco mais triste. Cansado. Tirei o casaco assim que cheguei e dei um beijo nela. Óbvio que ela não falou nada. Há dias trocávamos apenas bom dia, oi amor e boa noite. Chegávamos ao estágio de que não adiantava muito conversar, já estava tão puto, nem isso eu queria. Férias talvez...uma viagem. Um final de semana em búzios, na praia, de frente pro mar. Comendo mel com torradas e uvas no café da manhã. Um maiô novo pra ela...Com que dinheiro? As vezes eu esquecia completamente de que era fudido. Alias, no passado não. Eu sou fudido. Uma situação que estende na minha vida. Nunca soube juntar dinheiro, fiquei velho sem ele. Mas também tava frio, eu ia viajar pra onde. Só se fosse pra Pavuna, de novo.
Fiz menção de deitar, pra descansar. Iniciar o processo sofrível de tirar item por item de cima da cama e afastar os cinzeiros fedorentos dela. Completamente maluca essa mulher. Incrível como alguém é capaz de fumar tanto e tomar suco de couve com laranja no final de semana.
Há dez anos ela fumava sem parar. Minha gastrite crônica sempre me impediu de desfrutar deste prazer. Aliás, a gastrite também me impediu de tomar alguns porres e de ficar mais de 40 minutos com um chiclete na boca. Até que agradeço. Mas, na hora de deitar desisti. Achei que seria divertido ver um pouco de televisão. Ledo engano.
Fui até a varanda para afogar as plantas. Elas já estavam molhadas, mas eu já estava com o pote cheio de água na mão, achei mais coerente derramar tudo nelas do que jogar fora na pia. Pura preguiça. Ela estava no banho, ouvindo música no radinho. Quis entrar. Entro, não entro. Da última vez tomei um esporro. Estava um frio do piru e agente sem cortina. Cheguei lá com a mão gelada no meu pinto quente. Deixei a porta aberta. Ela disse que não era assim, pra começar de novo, do início e me mandou fechar a porta quando sair. Quando sair? Saco isso nas mulheres, sabia? Sempre começar do início não dá. Agente já no meio e eu tendo que começar pelo beijo no pé?! Depois do banho o pé dela estava gelado e meu pinto mole. Desisti.
Dessa vez eu ia entrar, não custava arriscar. Bati na porta. Ela não ouviu. Ela fingiu que não ouviu, pêra aí, ela não estava ouvido o Pavarotti. Bati e ameacei entrar. Entrei. Que foi? Que foi o que? Por que você entrou assim? do nada? Silêncio. Aconteceu alguma coisa? Não, vim ver você.
Ela jogou aquele cabelão ruivo pra fora da cortina. Odiava o cigarro, mas amava aquele cabelo. Queria ele o dia inteiro. Mal sabia ela que eram aquelas imperfeições, nas quais ela era fissurada, que eu mais amava. Costas grandes pro tamanho dela, corpo forte. Não era aquelas mulherzinhas magrinhas, gostosinhas, tipo bem-sucedidas. Ela era só uma mulher. Ou melhor, era quase uma mulher. Ela me olhou de daquele jeito. Vi que ela queria. Entrei no Box com ela de costas. Beijei sei pescoço. Enlacei sua cintura. Peguei no seu pênis. Ela deixou. Ah, Clarinha.
Se ela tivesse uma faca dentro do box e cortasse o pinto do seu parceiro fora, diria que és uma reencarnação de Nelson Rodrigues.
ResponderExcluirMuito Bom !!!
(ainda sem folego...)
ResponderExcluirgostei.
tem cor, clima, cheiro, sabor, ritmo e surpreende agradavelmente no ultimo ofegar.