quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Sobre onde quero chegar

Não sei sobre o que estou pensando. Se sobre a arte, se sobre a minha arte, se sobre o mundo, se sobre o papel da arte no mundo, se sobre o que vem, ou se sobre o que vai.

Arte política há muito saiu de moda, e hoje a ARTE chancela a exacerbação do individuo. Maneirismo e reprodutibilidade se encaixaram numa transa bem safada e a prole desse casamento se empapuça de Itaipava nas vernissages brasileiras e coleciona suvenires conceituais.

Nas rodas dos pensantes metem o pau no Romero Brito, no Vick Munis, no Damien Hirst... Desses é cool falar mal, eles merecem e isso é quase unânime. Mas dos cantinhos escuros da galeria, outras pedras atiradas, algumas sobre Adriana Varejão... Sim, cara Adriana, falam muito mal de você por trás das pilastras do cubo branco. Chamam sua arte de brasilidade clichê, de ser propositalmente palatável ao gosto dos fregueses nórdicos (Se me perguntarem o que eu acho do trabalho dela, vão ter que esperar eu conhecê-lo, até então, só sei que ela é maior gata). Mas não esquenta a cabeça, pois quem te enxovalha vende suas peças em liquidações coletivas em casas alugadas em “bairros vitrines”.

É só isso, Adriana, picuinha de circuitos... Queriam ganhar tanto quanto você. Mas fazer o que se o Sol nasce pra todos, mas o grau de luminosidade depende da inclinação de cada ponto da superfície desse planeta água?

Enfim... Mas não quero falar de você, cara Adriana, só quero descobrir aonde eu quero chegar.

Que projeto é esse ao qual me lanço? Onde quero deixar minhas pegadas? Em alguma história para além da minha?

Os artistas, juntos ou separados, galgam grana e há muito já sacaram que o trajeto até a galeria não é uma linha reta. Fingem, dissimulam, fazem que não tão nem aí... Mas a gente sabe aonde se quer chegar: fama, grana, sucesso. Nada contra a palavra sucesso, Bonsucesso é um bairro legal. Adoraria ter sucesso nos meus trabalhos, aliás, sucesso é algo que já tenho na minha vida... Mas não é desse sucesso do qual estou falando, falo daquele sob os flashes e sobre cifras.

Venho pensando nos manifestos. Venho pensando nos coletivos. Venho pensando no pacto social que vivemos todos os dias. Afinal, a arte pode lavar as mãos diante das nossas mediações políticas legitimada por sua dogmática inutilidade?

O caráter inútil da arte é sua maior potência, no entanto como já disse; maneirismo e reprodutividade se fuderam lascivamente ao som do tambozão fetichista desse capitalismo financeiro e simbólico. A partir disso toda a beleza da desconstrução do paradigma da causa final foi preterido pela causa final do dinheiro.

Chamo de capitalismo financeiro e simbólico, essa máquina de fazer capital nominal sem lastro material, não digo palpável, digo material, ou seja, substancial. Capitalismo especulativo, fetichista, simbólico. Este que decantou feito bigorna a partir da III revolução industrial (Meu Deus, que conceito antigo, na verdade anacrônico) Os anos 90 abriram tantas outras janelas, a internet e seus pares... E ainda depois disso o mundo decolou mais algumas vezes

O mundo decola e o ser humano cada vez mais submerso em realidades paralelas. Redes, redes... Redes que se findam no deserto. Bem, na verdade acho que estou sendo decadentista. Nem tudo é tão estéril assim. As redes se comunicam sim, mas é muita informação e um mesmo nó ata tanta coisa. Um mesmo nó ata tanta coisa, que me desculpem o trocadilho, mas sinto um nó na garganta, sinto um nó coração, e sinto que não é só o meu que bate comprimido, atravessado, vazado, perpassado, sobressaltado, confuso... Alvejado.

Mas enfim, retorno ao ponto de partida. Não sei se vasculho um universo particular ou um universo comum.

O que quero? Fazer uma arte manifesto? Ou só me expressar?

Quero entender? Entender o que?

Entender e rebater? Ser o rebote desse movimento que me leva como leva tantos outros?

Ser o mote do rebote desse movimento que me leva como leva tantos outros. Talvez seja isso. Vamos descobrir, vamos adiante, vamos mais distante, vamos!

Até a próxima!

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